terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fliperama Humano


É IMpressionante! Uma vez, na fazenda do Miller (Tupaciguara - MG), acordamos cedo e resolvemos ir até a cachoeira. A Fran tentou me persuadir a ficar e já começar a beber, mas eu, imbuída no espírito de aventura e companheirismo, recusei.

Estávamos em uma turma grande e eu e o Xapéu resolvemos ir na frente, já que conhecíamos a trilha. Ao chegar no riachinho, sentamos em pedras existentes e ficamos conversando até o resto do grupo chegar. Continuamos a caminhada e chegamos até a magnífica cachoeira. Linda!

Depois de nadar e curtir o visual, nós dois começamos a andar pelas pedras do outro lado do lago que se formava com a queda. Com o excesso de confiança, não prestei atenção e escorreguei no lodo. Caí em um filetinho de água e este era tão forte que me arrastou com brutalidade. Fiquei me debatendo, tentando me agarrar a algo, mas eu já havia me transformado em um fliperama humano (eu era a bolinha). Quando vi que não tinha como parar, tratei de proteger minha cabeça e torci para que eu chegasse logo curso do rio normal, sem as pedras. Pensei:” _Acho que as pancadas são da Morte me cutucando, chamando para ir com ela”. O tal filminho que dizem passar na mente antes de morrer, se iniciou. Bucéfalo! Não quero assisti-lo! E então, me lembrei do julgamento que fiz sobre um pescador japonês que tinha morrido afogado recentemente ali perto. Como um pescador morre assim? Não é possível que ele não soubesse nadar. Só que eu não levei em consideração a força da correnteza. Também não tinha pensado nas pedras. Ele pode ter batido a cabeça e ponto final para ele! Pedi perdão e neste instante, despenquei.

Era a primeira quedinha d’água que em seguida voltou a ser um filete maior e tão forte quanto antes. Continuei sendo levada. Outra queda. Bem mais alta. Cheguei a ver a floresta ao meu redor, só que breve. Afundei até enxergar tudo marrom. Tentei subir, mas a força da água me mantinha no fundo. Engraçado, apesar de tudo, eu estava calma e tive a luz de tentar nadar lateralmente até sair do jato de água que me mantinha lá embaixo. Tava quase conseguindo chegar a cima quando me faltou ar e comecei a afogar, mas bati as pernas mais rápido e consegui respirar! Alívio!!!! Mas ainda assim, comecei a afundar novamente, quando vi o Xapéu pulando pelas pedras desesperado.

A visão me deu forças e consegui chegar até perto da pedra que ele se encontrava. Tentei me segurar no pé dele, mas ele tremia tanto que seu pé chegava a pular e então afundei. Alah fez meu amigo enfiar a mão dentro da água e me tirar de lá. Eu estava completamente sem forças. Começou a chegar mais gente para ajudar e conseguiram me colocar em cima de uma grande rocha. A face de terror de todos começou a me assustar. Será que eu tava destruída?! Ai ai ai!

Neste instante, chega a Priscila, que estava de longe sem coragem de chegar até mim. Pegou por trás da gola da minha camiseta e puxou. Soltou um gemido tão apavorante e soltou imediatamente! Daí que fiquei com mais medo ainda. Eu devia tá muito machucada. Tentaram me colocar de pé, mas eu não conseguia devido a dor que era Gulliver. Xapéu de um lado e Priscila de outro. Eu não tinha escolha. Ou aguentava a dor e saía dalí ou passaria a viver como Mogli na floresta.

Para voltar para a fazenda por uma trilha menos 90º, escolhi voltar pela mais amena e mais distante. Seguimos até chegar onde eu e o Xapéu paramos para esperar o pessoal. Detalhe, encontramos um facão afiado. Não sei como não o vimos. Será que alguém passou por ali e fez o favor de perdê-lo assim?! Obra do Velho do Rio?! Bom, um dos meninos pegou o tal facão sem compromisso.

Seguimos em frente com a maioria do pessoal na frente para ir abrindo caminho. Capim tava alto por causa das chuvas recentes. Soltei um berro de dor. Olhei para baixo e tinha um inseto enorme com seu ferrão enfiado no machucado da minha canela. Pedi para retirar o monstrinho, mas ao baterem a mão no bicho, ele apenas balançou. Priscila e Xapéu dispararam a rir da situação e eu fiquei muito brava com os dois, até que conseguiram tirar aquela coisa da minha perna.

Continuando, chegamos a um local onde tinham galhos compridos e cheios de espinhos. O da frente ia passando e entregando o galho para o de trás segurar e não se machucar. Adivinha?! Xapéu foi segurou para ele e se esqueceu que eu estava sendo arrastada por ele e o galho se chocou com minha testa, até então sem arranhões. Lindo, né?! O que aconteceu?! Os palhacinhos tiveram outra crise de riso!!! Quando fico irritada, minha sombracelha esquerda se levanta e ela já tava a 3 metros de altura!!! Chegamos a outra árvore assassina. Ameacei os dois se soltassem o galho na minha cara novamente, só que ao terminarmos a travessia, o galho era fixo. Ridículo! Deve ter sido o medo de mim que lhes deu cautela para segurarem todos os galhos pela frente.

Comentei que o único lugar que não sentia dor eram minhas orelhas. Comentário adiantado deMarcia! Dei outro berro! Uma mutuca gigante estava pousada sobre a orelha direito! Doeu horrores. Os palhacinhos até que agiram rápido, mas já era tarde. Minha orelha ficou enorme e vermelha. Enfim, chegamos a uma área onde o capim era mais alto do que os meninos. Hora do facão amigo!!! Ainda assim, estava difícil passar. Doía muito. Meu corpo inteiro doía muito! Descobri que a respiração “cachorrinho” que grávida faz é para aliviar a dor. Eu estava super interagindo com essa respiração e sem ver. Lógico, rolou aluguel pelo fato. Plim, aliviava ou pelo menos distraía a dor. E eu nem percebia que estava fazendo. Deve vir junto com as mulheres esse tipo de coisa.

Chegamos no pasto. Um boiadeiro veio a cavalo ver o que estava acontecendo. Se propôs a me levar mas eu não conseguia nem dar um passo sem sentir dor, imagina eu movimentante em cima de um cavalo!? Resultado foi que fui de “cavalinho”, nas costas de um amigo, de forma que ele segurava minhas pernas e mãos para que eu não despencasse. Chegamos de volta a fazenda. A Fran, claro, riu da situação e me esfregou um copo na cara, falando que tinha me falado que seria muito mais legal ficar com ela bebendo. Não dei um soco nela porque não tinha condições físicas. Foi ela que limpou meus ferimentos, passou remédio e não ficou surda com meus gritos de sofrimento (praticamente uma enfermeira impiedosa). Ela também foi ternura, me alimentava e até fazia aviãozinho nos momentos garfadas. Aliás, fiquei assim por mais de uma semana. Sem movimentos e dependente.

Apesar de tudo, fiquei feliz por ver o amor que meus amigos têm por mim. Principalmente a Pri o Xapéu. Os dois me contaram que rolou o maior pânico ao imaginar que eu teria morrido ou algo do tipo. E eu vi o medo estampado na cara dos dois mesmo. Fliperama humano, não mais!

2 comentários:

  1. Se isso aconteceu na cachoeira do Rio claro eu sei exatamente como é! kakakakak Aconteceu exatamente o mesmo comigo. hahaha agora é engraçado mas na hora nao teve graça nehuma.

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  2. kkkkkkkkkk
    Ri demais lendo essa parte.
    Franta, sem condição..acho que depois desse dia vc sempre preferiu ficar com agente bebendo do que se aventurar em terra não aventuráveis.

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